O ano de 2021 foi movimentado em termos de fusões e aquisições, e 2022 segue um rumo semelhante. O setor do agronegócio é um dos impactos nesse cenário. As empresas do segmento estão se tornando mais atrativas aos investidores em razão de alguns fatores:
- Colheitas recordes nos últimos dois anos
- Crescente demanda global pelos produtos
- Preços das commodities
Um levantamento da consultoria KPMG mostrou que, em 2020, foram realizadas 39 transações de M&A no setor de agronegócio no país. O número indica um aumento de 21,8% em relação a 2019. Em 2021, de janeiro a outubro, a consultoria apontou 41 negócios fechados, contra 11 no mesmo período do ano anterior. Os acordos incluem também as empresas de tecnologia do agro, chamadas de agtechs.
Segundo a consultoria, a maioria das fusões e aquisições do agronegócio brasileiro foi feita entre empresas do país, ou seja, investidores brasileiros comprando empresas-alvo também brasileiras. Para a KPMG, esse movimento representa uma clara estratégia de consolidação para crescimento e ganho de eficiência operacional.
Fusões e aquisições no agro em 2022
Entre as operações de M&A do agro brasileiro feitas em 2021, 61% foram negociadas por investidores estratégicos – aqueles que já atuam no setor e vem a aquisição como um negócio de longo prazo. Já os investidores financeiros, incluindo fundos de private equity e bancos de investimento, foram responsáveis por 39% dos acordos. Nesse caso, a estratégia é alcançar um retorno financeiro com o desinvestimento no médio prazo.
A expectativa da KPMG é que as fusões e aquisições sigam aquecidas nos próximos anos no agronegócio brasileiro.
Uma das aquisições que movimentou o mercado agro neste 2022 foi a compra da Biosev pela Raízen, joint venture de Cosan e Shell no setor sucroalcooleiro e em combustíveis. Em fevereiro, a companhia anunciou a conclusão da aquisição da totalidade das ações da Biosev, resultando na compra das nove unidades processadoras de cana de açúcar da companhia. A Raízen acertou o pagamento de R$ 3,6 bilhões em dinheiro aos acionistas da Biosev, além da emissão de novas ações sem direito de voto para que os acionistas da Biosev detenham 3,5% de participação na empresa.
Em fevereiro, foi a norueguesa Yara que fechou a aquisição de uma participação de 14% na plataforma brasileira de comércio online de produtos agrícolas Orbia, de propriedade majoritária da alemã Bayer AG. A Bayer e a brasileira Bravium foram igualmente diluídas para acomodar a Yara como sócia, com a empresa alemã agora possuindo 68,8% da Orbia e a Bravium detendo uma participação de 17,2%.
Em janeiro, a Marfrig, gigante de produção de alimentos, anunciou um investimento total de US$ 7 milhões nas startups Quiq e Takeoff Technologies. A Quiq é uma plataforma digital brasileira que simplifica a gestão de pedidos online dos restaurantes, conectando os diversos aplicativos de delivery diretamente aos sistemas de ponto de venda. Já a Takeoff Technologies é uma empresa americana que trabalha na criação e soluções automatizadas de atendimento e gerenciamento de estoque de alimentos para redes de supermercado e pequenos comércios.
A BRF, outra gigante brasileira de produção de alimentos, informou no começo do ano o entendimento com o fundo de investimentos soberano da Arábia Saudita para a criação de uma joint venture. Essa parceria permitirá a produção de frangos no país do Oriente Médio, em acordo que contempla investimentos de cerca de US$ 350 milhões. Segundo a BRF, a nova empresa, na qual a brasileira terá 70% de participação, promoverá a venda de produtos frescos, congelados e processados na Arábia Saudita. O fundo será dono do restante da companhia.
Também este ano, em março, a BSBIOS, maior produtora de biodiesel do Brasil, anunciou a aquisição de 100% da fábrica MP Biodiesel, situada na Suíça, como parte de um plano de posicionar a companhia como uma das maiores produtoras do biocombustível no mundo. A aquisição da fábrica localizada em Domdidier, no Cantão de Friburgo, marca uma nova etapa da inserção da empresa no mercado internacional, principalmente o europeu. O grupo já desenvolvia relações comerciais com a Europa a partir de uma subsidiária na Suíça. A fábrica usa óleo de cozinha usado como matéria-prima.
Outro importante acordo registrado neste 2022 envolvendo empresas do agro foi a associação entre a LDC (Louis Dreyfus Company), Amaggi Exportação e Importação, Sartco, Cargill Agrícola e Dalablog Participações nas sociedades Carguero Inovação Logística e Serviços e Green Net Administradora de Cartão. A Carguero, uma joint venture da Dreyfus e Amaggi, cada qual com 50% de participação, atua com intermediação de frete rodoviário de cargas via plataforma digital. Já a Green Net é uma empresa quase inteiramente detida pela Dalablog e oferta serviços de pagamento eletrônico de frete e pedágios.
Investimentos em startups do agronegócio
Entre as startups do setor do agronegócio, a agfintech brasileira de crédito rural TerraMagna levantou, no começo de 2022, US$ 40 milhões em uma rodada com dívida e capital incluindo o SoftBank para expandir sua presença regional e diversificar sua oferta de produtos financeiros. Segundo o TerraMagna, é a primeira vez que o SoftBank investe em uma empresa com atividades ligadas à agricultura. A Shift Capital e a Milenio Capital também participaram da rodada, assim como atuais investidores, disse a empresa.
Também no começo do ano, a AgroGalaxy, uma das maiores plataformas de varejo de insumos agrícolas e serviços para o agronegócio, anunciou a conclusão da compra de 80% do capital social da Agrocat Distribuidora de Insumos.