A Alpargatas anunciou, recentemente, uma oferta primária de 37,5 milhões de ações ordinárias e 57,5 milhões de ações preferenciais com o objetivo de levantar recursos para financiar a aquisição de uma participação na Rothy’s, uma fabricante de roupas e calçados americana que usa como matéria-prima produtos reciclados.
Esse movimento da Alpargatas, que tem capital aberto na bolsa de valores desde 1913 – é uma das ações mais antigas listadas na bolsa brasileira -, é chamado de follow-on.
Quando uma empresa decide abrir capital na bolsa e faz a sua primeira oferta pública de ações, essa operação recebe o nome de IPO, do inglês Initial Public Offer. Isso só acontece uma vez. Mas quando a companhia decide ofertar mais ações, em qualquer momento depois do IPO, essas novas ofertas são chamadas subsequentes (follow-on) – e esse movimento pode acontecer diversas vezes.
Formas de fazer follow-on
A bolsa de valores brasileira B3 informa que há duas maneiras de uma empresa de capital aberto realizar follow-on:
- Pela Instrução CVM 400, a oferta de ações é destinada ao público em geral – para qualquer investidor, inclusive os de varejo, portanto. Por isso é exigida ampla, transparente e adequada divulgação de informações sobre a oferta, as ações ofertadas, a empresa e os demais envolvidos. Segundo a B3, tais ofertas públicas devem ser submetidas previamente ao registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e na B3.
- Pela Instrução CVM 476, a oferta de ações é destinada exclusivamente para investidores profissionais, e dessa forma pode ser distribuída com esforços restritos. Adicionalmente, diz a B3, a oferta com esforços restritos é dispensada de registro na CVM e não há obrigação de elaboração de prospecto. Em relação ao esforço de venda local dessas ações, a B3 informa que elas podem ser oferecidas para, no máximo, 75 investidores profissionais; e adquiridas por, no máximo, 50 desses investidores, sem limite de número em caso de investidores estrangeiros.
Existem várias razões que levam as empresas a fazerem uma oferta subsequente de ações. No caso citado no começo deste texto, da Alpargatas, a companhia precisou de recursos financeiros para adquirir a empresa americana. Comprar outra empresa é apenas uma das razões do follow-on. Outros exemplos são:
- Financiar a expansão de uma instalação fabril
- Expandir geograficamente
- Revisar a estrutura de capital, equilibrando o nível de endividamento
Tipos de follow-on
Além disso, as ofertas subsequentes de ações podem ter diferentes características.
A oferta primária envolve a venda de novas ações emitidas pela empresa. Nessas operações, o dinheiro captado com as vendas vai para o caixa da companhia, aumentando o capital social e sua base acionária. Quando se trata de uma oferta secundária, as ações ofertadas ao mercado são de um ou mais acionistas, com o objetivo de reduzir sua participação naquela companhia. Nesse caso, são volumes de venda relevantes e o dinheiro captado vai diretamente para o acionista responsável pela venda.
Como é o processo de follow-on
A realização do follow-on requer uma avaliação criteriosa do negócio. Além de ser necessário registrar a oferta na CVM e na B3 (como indicado acima), instituições financeiras se juntam à operação para coordenar o processo e distribuir as ações no mercado. No exemplo da Alpargatas, os controladores Itaúsa e Grupo MS se comprometeram a participar da operação, enquanto Itaú BBA, Bank of America, JPMorgan, Bradesco BBI e Citi são os coordenadores.
A partir disso é definido o tamanho da oferta (quantidade de ações) e a precificação dos papéis. Esse conteúdo deve estar no prospecto preliminar definitivo, um dos documentos mais importantes em um follow-on. Nele constam as principais informações da companhia e da oferta, e é utilizado pelos investidores para tomar uma decisão. Ali também aparecem perspectivas de mercado, projeções financeiras, riscos, entre outras informações.
Recentes follow-on realizados no Brasil
A operação de follow-on é comum no mercado de ações. Veja alguns exemplos recentes:
BrasilAgro: levantou R$ 440 milhões em fevereiro de 2021 para aquisição de ativos na Bolívia, aquisição de terras para exploração e desenvolvimento de propriedades agrícolas, e negócios para otimizar e alavancar as atividades operacionais da empresa.
BRF: levantou R$ 5,4 bilhões em fevereiro de 2022, elevando o capital social para cerca de R$ 13 bilhões.
BTG Pactual: levantou R$ 2,57 bilhões em junho de 2021 para acelerar iniciativas estratégicas e o crescimento da área de negócios de varejo digital.
Light: levantou R$ 2,7 bilhão em janeiro de 2021 com ações secundárias pertencentes à Cemig.
Locaweb: levantou R$ 2,977 bilhões em fevereiro de 2021 para para pagamento de aquisições realizadas e potenciais novos negócios.
Magalu: levantou R$ 3,981 bilhões em julho de 2021 para expansão da logística, incluindo automação e novos centros de distribuição e cross dockings, bem como investimentos em tecnologia, inovação, pesquisa e desenvolvimento e aquisições estratégicas.
PetroRio: levantou R$ 2,049 bilhões em janeiro de 2021 para antecipar o cronograma de investimentos orgânicos e suportar financeiramente novas aquisições.